SHUTTERSTOCK
Resolvida a maior crise de identidade da Paleontologia Contemporânea. O famoso brontossauro, que tivera sua existência reconhecida por um período curtíssimo de tempo, sendo em seguida reclassificado como um diplodocídeo próximo, o apatossauro, agora retorna aos anais da Ciência como espécie de saurópode legítima.
O nome, Brontosaurus excelsus, cuja adaptação literal do grego é lagarto-trovão, foi atirado na lixeira em 1903 quando Elmer Riggs, paleontologista americano e descobridor do braquiossauro, concluiu que o achado do renomado Othniel Charles Marsh não possuía diferenças o bastante em sua anatomia para separá-lo do gênero já conhecido Apatosaurus. A regra de nomenclatura exigiu então que se mantivesse o nome mais antigo, visto que é logicamente o mais difundido, facilitando sua identificação e este passou a se chamar Apatosaurus excelsus. O fóssil se encontra até hoje em exibição no Museu Peabody de História Natural da Universidade Yale, em New Have, Connecticut, onde o curador se recusou a atualizar a sua identificação, assim como a cultura popular, que criou inúmeras representações do dinossauro, sendo este o pioneiro dos dinossauros a ter sua imagem espalhada em larga escala.
Dino, do Hanna Barbera Studios
In:http://criancas.uol.com.br/album/personagenseseusbichinhos_album.jhtm#fotoNav=1. Acesso em 1 de maio 2015.
Antiga Representação de Brontosaurus
Note como retrata a refutada hipótese de devido ao seu peso o saurópode passar muito tempo imerso em rios e lagos.
Não encontrei os direitos da imagem em parte alguma
Acredito ter visto uma assim em um livro "A Fauna dos Pântanos" mas não sei
o autor e nem a editora, é dos anos 60.
Acesso em 1 de maio 2015
E assim foi até 7 de abril, quando uma equipe de paleontólogos europeus postou um artigo no PeerJ - site de publicações acadêmicas, clique na palavra para acessar - demonstrando que a alegação de Riggs a respeito das semelhanças entre eles não é fundamento pleno para serem o mesmo dinossauro e reclassificando o espécime e mais outros dois animais do gênero Apatosaurus para o Brontosaurus. "Em geral um brontossauro pode ser mais facilmente distinguido de um apatossauro por seu pescoço mais longo e mais estreito" explica Emanuel Tschopp, um dos autores do estudo de quase 300 páginas da Universidade de Lisboa, Portugal.
O estudo analisou cerca de 477 características anatômicas de 81 espécies pertencentes a família Diplodocidae, a qual pertence também o bem conhecido diplodoco, e levou 5 anos para ser desenvolvido enquanto realizava-se numerosas visitas a coleções de museus da Europa e dos Estados Unidos. Seu objetivo inicial era relacionar as familiaridades de características físicas entre os membros dessa família, mas acabou culminando na reclassificação do primeiro brontossauro e de outras duas espécies, cujas características os colocam em um gênero a parte do apatossauro, entre outras espécies em grupos diferentes, como o Galeamopus, que foi presenteado com um gênero só pra ele, e dois diplodocos, que passam a ser integrados ao gênero Supersaurus.
Davide Bonadonna, Milão, Itália
Outra representação antiga
Acesso em 1 de maio 2015.
Para Mike Taylor, paleontólogo de vertebrados na University of Bristol, na Inglaterra, que não participou dessa pesquisa, a coisa mais empolgante sobre o novo estudo é “a magnífica abrangência do trabalho que o grupo realizou, as ilustrações lindamente detalhadas e informativas, e o extremo cuidado para tornar todo o trabalho reproduzível e verificável. Ele realmente estabelece um novo padrão. Sinto uma profunda admiração pelos autores”, elogiou.
In:http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/o_brontossauro_esta_de_volta.html. Acesso em 1 de maio 2015.
Tschopp ainda acredita que esse estudo teria isso impossível antes. Sem as descobertas recentes sobre apatossauros e brontossauros, eles jamais poderiam ter reunido o volume de evidências necessário para trazer o brontossauro de volta a vida.
Apesar disso ainda há controvérsias. O curador de paleontologia do Museu Eastern de História Natural da Universidade do Estado de Utah, Keneth Carpenter afirma que o fóssil de apatossauro nunca foi examinado em detalhes, e por isso é cedo para lançar um veredito final a respeito da legitimidade do novo gênero Brontosaurus.
A verdade é que as mesmas diferenças sutis que separam os diplodocídeos podem ser notadas em fósseis de Apatosaurus exibidos em Tóquio e no Museu Americano de História Natural, gerando aí talvez uma infinidade de novas evidências a serem analisadas e estudadas. Outro paleontólogo de vertebrados, Mathew Wedel da Western University of Health Sciences, em Pomona, na Califórnia, aponta que o período Jurássico pode ter sido muito mais esquisito do que pensávamos.
Sabemos que reunimos menos de 5% das formas de vida já extintas no nosso registro fóssil, e isso é tão evidenciado pela amplitude da vida nos tempos modernos, quanto, e nem tínhamos nos dado conta, pela sua diversidade. Parece que sabíamos o quão longe estávamos de conhecer a fauna do Mesozóico, entretanto, não enxergávamos a pequena diversidade de registros que tínhamos. É só parar para pensar. Atualmente uma família de animais vertebrados tem dezenas de gêneros, ao passo que Diplodocidae tinha dois!
Cada nova descoberta, traz consigo inúmeros novos enigmas. É assim, é a magia da Ciência. É o que nos impede de ficar sem trabalho, de viver em um mundo monótono, onde tudo o que havia de maravilhoso já havia sido revelado e, eventualmente, profanado. Este é o legado do Brontosaurus para a nossa geração:
- Mesmo aquilo que seus pais, professores ou a Velha Ciência havia condenado como sandice, pode voltar e ser tão real quanto as pedras sob os nossos pés, ou, quanto sonhávamos que fosse. E
- há um mundo a ser desbravado, não para frente ou para trás, mas em três dimensões (e quiçá mais!), onde o futuro ainda deve ser inventado e o passado redescoberto. Esse mundo é a nossa herança, e a Ciência, qualquer que seja, paleontologia ou robótica, física, ou astronomia, é a nossa chave para abri-lo.
Fonte:
https://www.sciencenews.org/article/brontosaurus-deserves-its-name-after-all. Acesso em 1 de maio 2015.
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/o_brontossauro_esta_de_volta.html. Acesso em 1 de maio 2015.