Estou voltando com mais uma quentinha. Descobri, nem sei como, há milhares de anos, um site americano, que havia salvo nos meus favoritos, mas nem me lembrava mais dele. E fuçando minhas recordações que o Chrome provê ao guardar favoritos e preferências, eu o reencontrei no domingo. Chamado About.com, é destinado ao puríssimo jornalismo cultural, e voltado a diversas áreas, tais quais, educação, esporte, casa, saúde comida e tecnologia, entre outros. Por coincidência, ou não, se você acredita nessas coisas, na secção de educação eu encontrei um articulista (escritor de artigos) Bob Strauss (clicando no link, você vai para a auto-apresentação dele no About), bastante boa-pinta que escreve sobre paleontologia.
Aêêê! Cadê os aplausos? Vamos ter informações direto do forno, mais fresca que isso só se eu fizesse as malas e montasse acampamento em Hell Creek e tomasse café com o próprio Jack Burck (sei lá como se escreve o nome dele - por obséquio manda aí nos comentários que eu corrijo). Eu sei que eu já fui cheio de um discursinho furreca anti-americanista, mas convenhamos, eu também não sou do Estado Islâmico, não vou exagerar, e não porque eu estou trazendo informação de lá que vocês devem ficar preocupados com a perda do espírito patriótico do blog. Aliás, ela é de natureza tão irreverente e curiosa, que só vai somar à nossa busca por expandir esse mundo de dinossauros e outros animais incríveis do passado para novos públicos. É sério. "Bota fé".
Vamos lá, então. O artigo é estruturado em slides, mas eu vou adaptá-lo para a matriz de postagem normal mesmo, até eu aprender a inserir arquivo pptx no blog. Lembrando que as informações serão repassadas em sua essência, mas com acréscimos com as fontes devidamente citadas e com minha própria pena, para manter a originalidade.
Copyright: Wikimedia Commons
Esqueleto de Faisão
In: Revista Galileu
O título original é "Ten Prehistoric Birds Everyone Should Know" e começa com uma foto despretensiosa de réplica fóssil de pássaro, mas não achei uma imagem igual e não consigo copiar porque a apresentação é do Pinterest. Todos nós sabemos, e espera-se que as crianças de 10 a 12 anos aprendam, que as aves são os descendentes vivos dos dinossauros, do mesmo modo, que os crocodilos, são o seu braço evolucionário mais próximo, o que é respaldado por observações na morfologia de espécies desses animais, como por exemplo o ossos ocos, o formato da pélvis, a disposição de braços e pernas, os pés com três garras e uma diminuta atrás. Mas, e se eu lhe pedisse para citar uma espécie de ave que viveu ou na Era Mesozóica ou na Era Cenozóica. E não vale o arqueoptérix! Se você teve problemas, junte-se a nós dessa jornada, e sane seu vazio interior, e mesmo se não teve, aproveite e amplie sua enciclopédia cerebral.
Copyright: Wikimedia Commons
Fóssil de Aurornis (160 mda - velha sigla)
In: Website Revista Descoberta (em inglês)
Como você pode observar na legenda, o Aurornis é o pássaro mais antigo conhecido, ultrapassando o arqueoptérix em 10 milhões de anos. Na verdade, ele é, assim como o arqueoptérix, um dinossauro emplumado, sendo suas penas finas para serem usadas frequentemente em um voo não impulsionado. Quanto ao perigo da sua classificação, vamos levar com calma o assunto, uma vez que ele é um elo entre dois patamares evolutivos, e assim fica difícil a classificação. O "pássaro da aurora" foi encontrado na China, possuía 60 centímetros de comprimento e sua idade o põe momentaneamente na cadeira ao centro da mesa de "pai de todas as aves".
Copyright: Wikimedia Commons
Fóssil de Confuciusornis (130 mda )
In: About.com
Já o Confuciusornis, era dotado de um bico genuíno, ou seja, sem dentes, ostentava um espesso casaco de penas, e usava sua longa e curvada garra traseira para empoleirar-se nos galhos altos das árvores. Contudo, essa espécie não é ancestral das aves modernas. Segundo Hrdchova e Gregorova, mesmo com suas semelhanças ele não é tão próximo dos pássaros atuais quanto o Hersperornis ou o Ictiornis, que apresentavam dentes. Isso indica claramente um caso de convergência adaptativa (quando uma mesma característica é desenvolvida por duas espécies sem parentesco próximo e por pressão do ambiente). Além disso, pode-se dizer que há indícios de dimorfismo sexual (quando o macho e fêmea se distinguem em sua aparência), e que os padrões de crescimento de aves como esta, se dispunham como intermediários entre dinossauros e aves, se desenvolviam mais rapidamente que os grandôes, mas ainda eram lentos se comparados com aves contemporâneas.
Copyright: Museu Carnegie de História Natural
Representação da Ave do gênero Gansus (110 mda)
In: New Scientist Website
Ah! Esse é o ancestral dos patos e mergulhões! Se ouvisse isso seria porque você caiu numa trollagem paleontológica. É como dizer que o Gliptodon é ancestral do tatu. Não caia nessa, tanto a ave como o mamífero são apenas antepassados de seus respectivos colegas de classe. Na verdade, o Gansus yumenensis, encontrado na província chinesa de Liaoning, 2000 km de Beijing, é classificado como muito próximo das aves modernas, de acordo com a revista New Scientist, que publicou um artigo sobre a descoberta dessa peça adicional no quebra-cabeça evolucionário das aves. Contudo, o próprio Bob Strauss o descreve como mais velho membro de um grupo de ancestrais das aves modernas, os Ornithurae, tendo a cautela de informar que essa classificação permanece duvidosa. A magia desse espécime é igualmente a sua idade, pois o grupo nomeado acima, costumava até seu achado ser restrito a 85 mda, e esse animal, de 25 cm de comprimento, tão moderno morfologicamente, porém antigo na contagem do tempo geológico é algo fantástico na montagem da linhagem dos pássaros contemporâneos. Apesar disso a semelhança com os anseriformes atuais (patos, mergulhôes, gansos), nos permite fazer algumas observações sobre sua anatomia e comportamento. Seu fóssil preserva sinais de pés palmados e penas apropriadas para o voo, além de ligações musculares típicas de nadadores propelidos pelos pés, embora não tão fortes quanto as aves modernas.
Copyright: National Geographic Channel
Representação da Ave do gênero Hesperornis (75 mda)
In: National geographic Website
A imagem acima não corresponde a imagem do artigo. Essa espécie de ave marinha parece ter percorrido o caminho inverso ao dos pássaros no fim da Era Mesozóica. A ave evolui dos pássaros voadores que viveram no Cretáceo, logo perdendo a habilidade em função de modificar seu nicho ecológico, tornando-se uma pescadora nata. Não pense nos inofensivos e carismáticos pinguins, mas nos terríveis marabus africanos que arrancariam seus olhos, anéis e colares se tivessem a oportunidade. Seu 1,5 m de corpo hidro-dinâmico, aliados a um bico forrado de dentes e asas diminutas coladas ao corpo para direcioná-lo na água o transformavam num formidável predador mediano. Além disso, havia a cauda achatada para mudar de profundidade e o pescoço esguio que lhe conferiam uma excelente mobilidade sob a água. Desse modo, imagina-se o quão desajeitado ele poderia ser em terra, evitando-a, menos para se reproduzir-se e pôr ovos. O mergulhão turbinado foi figurante do último episódio da série televisiva da BBC "Sea Monsters".
Copyright: Wikimedia Commons
Fóssil de Gastornis (55 mda)
Acervo Smithsonian
Após a extinção dos dinossauros, as aves ficaram livres para ocupar os nichos ecológicos que estavam vagos. Então o Gastorinis tomou o lugar de primeiro superpredador do Cenozóico. Seus assustadores 2 m de altura, bico "estripador 2000", garras enormes, pernas fortes e torneadas, o punham nessa posição ao predar por emboscada (presumivelmente) ungulados (como cavalos) e roedores do Eoceno. Na época a Terra era coberta de florestas tropicais de clima úmido, que forneciam abrigo e alimento abundante. Mas ao final do Eoceno, essas condições desapareceram com a mudança climática de costume, que acrescida da competição com os novos predadores mamíferos, por exemplo os creodontes e mesoniquídeos (ancestrais dos felídeos), deram uma virada desfavorável a Pássaros do Terror como este. O Gastornis viveu na América do Norte e na Europa, e já foi conhecido como Diatryma. Estrelou o primeiro episódio do documentário da BBC "Caminhando com Feras".
Copyright: Science News
Fóssil de Eocypselus rowei (52 mda)
Você já parou para pensar de onde vieram as magníficas asas compridas e esguias da andorinha? Ou as curtas asas em forma de lâmina dos beija-flores? Eis a sua resposta, na forma do ancestral comum desses dois grupos de aves. Eocypselus é o tipo de pássaro pequeno, leve como uma pena (ó o trocadilho!), caçador de insetos que oscilou desajeitadamente pelos bosques do Eoceno. O fóssil acima foi encontrado no Wyoming, e está sob os cuidados da Universidade do Estado da Carolina do Norte, que estudou o achado a ponto de afirmar sua cadeira de Pai dos Andoriformes. Ele se encontra tão bem preservado que suas características microscópicas podem ser observadas. Sabe-se que suas asas eram maiores que as do beija-flor, mas menores que a da andorinha. Isso indica que ele devia ter um voo bem desajeitado, sendo pouco provável que fosse capaz de pairar ou deslizar bem, como fazem os beija-flores e andorinhas hodiernas, respectivamente.
PaleoArte: Nobu Tamura (Visitem o Portfólio dele no Blogger clicando no nome). Icadyptes salasi (40 mda). Encontrado na Wikipedia
Você deve ter pensado que o estilo de vida dos pinguins não mudou muito em 40 milhões de anos: curtir a vida nas banquisas de gelo, nadar para encontrar alimento, entre outros afazeres de ave marinha. E esta é a mais bela verdade da vida, mas eu vou decepcionar você um pouquinho, como quando você tinha 8 anos e descobriu que pinguins e ursos polares vivem e pontos diametralmente opostos do planeta e nunca se encontraram como nos desenhos do Willy do Pica-Pau. O Icadyptes viveu numa luxuosa praia cinco estrelas de Ica, Peru do final do Eoceno. Quando foi encontrado o seu crânio, a parte foi-se logo pensando que era a mais impressionante de seu corpo, com se bico comprido feito uma lança! Mas o mais incrível é que ele transformaria em anões os pinguins que caminham hoje sobre a Terra. Seus 1.5 e meio o colocariam ombros e cabeça acima do moderno pinguim imperador, e seus 34 quilos fariam dele um peso-pesado. Contudo, ele não foi o maior pinguim da sua época. Era batido pelo Inkayacu.
Copyright: BBC Britânica
Phorusrachus (12 mda)
Imagem diferente daquela do artigo
Você pode mensurar o sucesso das aves do terror no Cenozóico contando desde o surgimento do Gastornis, 10 milhões de anos após a extinção dos dinossauros, até o desaparecimento dos Phorusracídeos da América do Sul, seu último reduto no planeta, há 1 milhão de anos. Este animal, quem assistiu "BBC Walking With Beasts" ou "Prehistoric Park", ou mesmo Primeval sabe, era dotado de garras poderosas como ganchos, usadas para segurar presas de médio e pequeno porte enquanto as matava com seu bico em forma de machadinha. Na verdade, pensa-se hoje entre os paleontólogos que seus métodos de abate são similares aos das siriemas: que a ave do terror agarrava firmemente a presa e depois a jogavam contra o chão, atordoando-a, e quebrando seus ossos. Ou talvez até, já não mais relacionado às siriemas, pudesse dar uma bicada bruta o bastante no crânio da presa a ponto de causar um dano sério que lhe cause a morte. É claro que para ser capaz de tamanho golpe o pássaro deveria ser capaz de alcançar a presa, de modo que uma reles emboscada não seria o bastante para aproximá-lo. Tal papel era cumprido por suas longas e musculosas pernas, que serviriam de excelentes propulsores nas ravinas onde habitava na Argentina e Paraguai.
Copyright: Julius T. Csotonyi
Argentavis magnificens (6 mda)
Não é a imagem do artigo
Apesar da força e majestosidade dos seres voadores emplumados da Era Cenozóica, eles nunca atingiram o tamanho dos seus antecessores, os pterossauros. Mas não se desanime, houve quem o tentasse. O Argentavis é provavelmente a maior ave que já planou no céu. Batendo 2 vezes a envergadura do albatroz, ele possuía 6.4 m de uma ponta a outra da asa, assim como pesava cerca de 70 kg, tanto quanto 16 águias carecas (informação do NatGeo, se você não é americano, o que é bem provável, aí vai a dica - é o animal símbolo dos Estados Unidos). Contudo, suas dimensões épicas deixavam uma cicatriz profunda em seu estilo de vida: ele nunca voaria como os pássaros menores, batendo asas, apenas planando, da mesma forma que se acreditava que os pterossauros faziam. É possível que tenham descido colina abaixo à procura de um vento intenso o bastante para erguê-los, revelaram os pesquisadores da Universidade de Tecnologia do Texas, em seu artigo para o jornal "Procedimentos Academia Nacional de Ciências", em 2007. Esse trabalho foi realizado com a incomum colaboração mútua entre paleontólogos e engenheiros aeronáuticos aposentados. Por outro, uma vez no ar seriam os melhores planadores de todos!
Aepyornis - Ave-Elefante (2 mda)
Não é a imagem do artigo
O pássaro acima é com certeza conhecido pelas proporções do seu corpo, mas, em especial, por algo que sai dele: o ovo - cerca de 100 vezes o volume de um ovo de galinha, algo como uma bola de basquete. A propósito, seu nome popular é tipo popular mesmo, vem das lendas antigas de Madagascar, nas quais os contadores relatavam a respeito de uma ave tão grande que seria capaz de carregar um bebê-elefante. É verdade, sim que ele foi bem grande, com 3,3 m de altura e cerca de meia tonelada de peso, o que não é pouco para dar uma partida em velhas histórias de pescador. Contudo, não se engane, esta ave originalmente pleistocênica sobreviveu até os séculos XVI ou XVII, provendo bastantes observações a curiosos, até ser eliminada pelo colonizador europeu, assim como seu conterrâneo, o dodô. A Ave-Elefante era caçada pelos nativos da região, mas não chegou a ser ameaçada seriamente por milhares de anos, ademais, a ausência de predadores e competição lhe rendeu longevidade e alimento o suficiente para que atingisse seu tamanho colossal. Então em meados da Era Moderna seu retiro foi profanado pelos navegadores europeus, que com mesmo não se sabendo ao certo se chegaram a caçá-las, mas com certeza contribuíram para sua extinção com ratos em navios que trouxeram consigo doenças. Outra hipótese ainda, seria a mudança climática. Hoje a comunidade científica detém material genético suficiente dos fósseis para realizar uma de-extinção (processo pelo qual o animal pode ser recriado em laboratório, por clonagem, mais ou menos como a ovelha Dolly), caso seja interessante.
Valeu, pessoal! Essa foi nossa épica post sobre aves pré-históricas, retirada e traduzida e incrementada do site About Educação, com autoria de Bob Strauss.
Espero que tenham gostado. Deem +1, comentem, deixem sugestões sobre novos temas.
Para as próximas, aguardem: O caso de identidade do Brontossauro, e o que raios é essa classificação filogenética?